Outra atividade, sem a qual o bairro não teria chegado ao seu atual estágio, foi a dos fabricantes das barcaças. Labindo Frassi, um italiano de Livorno, que chegou ao Brasil por volta de 1900, foi seu pioneiro. Era casado com Líbera Frassi, mãe de seus filhos: Mário, Dante e Vanda.
Montou seu estaleiro no final da Rua Tuiuti, próximo às margens do rio. Lá, ajudado por seus filhos Mário e Dante, deu início à fabricação dos seus populares batelões. Nos dias atuais, que tanto se fala em produtividade, é de dar inveja o que produziam aqueles homens naqueles longínquos tempos. A média era de um barco pequeno por dia e um barco grande todas as semanas. Foram fornecedores constantes de um famoso vizinho: Conde Francisco Matarazzo.
Não há estatísticas a respeito, mas esses três homens devem ter fabricado centenas de barcos durante seus longos anos de atividade. Com o advento de outros meios de transporte e a criminosa poluição do Tietê, encerraram os trabalhos no estaleiro em 1964. Desse ano em diante, passaram a se dedicar à extração de areia. Labindo faleceu em sua terra natal em 1972.
Não há dinheiro suficiente para pagar os ingentes sacrifícios feitos pelos proprietários ou arrendatários de chácaras e vacarias, pelos oleiros e seus trabalhadores, pelos barqueiros e pelos proprietários do estaleiro do bairro. Foram homens de fibra incomum, pois desenvolveram suas atividades em épocas dificílimas e nas condições mais precárias imagináveis. Criaram os meios de levá-las a frente quando a região não tinha as mínimas condições de infra-estrutura.
Começaram a sedimentar as bases daquele que viria a ser um dos melhores bairros de São Paulo, quando não passava de várzeas, brejos e matagais. Mais importante para nós que as histórias dos barqueiros do Mississipi e dos desbravadores do Oeste americano, são as histórias dos sitiantes e barqueiros do Rio Tietê. Não entender isso, é não dar o devido valor aos pioneiros do nosso querido Tatuapé.
OS SISTEMAS DE TRANSPORTE
A partir do ano de 1876, começava a ser construída a via férrea, ligando o bairro do Brás à cidade de Mogi das Cruzes. Dez anos depois é ultimado o ramal do mesmo bairro à Penha. Ao longo do novo trecho, e concernente ao Tatuapé, surgiam 6 novas estações: Brás, Mooca, Belenzinho, 4ª, 5ª e 6ª Paradas. Estas últimas instaladas na atual Avenida Álvaro Ramos, Ruas Tuiuti e Antonio de Barros. Mais tarde a da Rua Tuiuti foi desativada, passando a da Rua Antonio de Barros a ser denominada 5ª Parada.
No ano de 1901, era inaugurada a linha de bondes elétricos da cidade. A concessão para explorar esse serviço pertencia à Light and Power Company. O novo sistema substituía o anterior, também constituído de bondes, porém por tração animal. Os famosos bondes puxados por burros, existentes desde 1871.
A nova modalidade de transporte servia o bairro por meio de uma linha que ligava o Centro à Penha e por outra, também partindo do Centro, com ponto final nas proximidades da Fábrica de Lençóis Santista, junto à Rua Tobias Barreto, Quarta Parada. A linha do Centro à Penha tinha uma interessante particularidade: chegava até o bairro do Belenzinho, altura da atual Rua Dr. Clementino, com linha dupla, seguindo daí para frente com linha de uma só via.
Para evitar o encontro dos bondes nesse trecho, foi instalado um sistema de aviso constituído de uma chave elétrica e um suporte contendo duas lâmpadas: uma verde e uma vermelha. Estas eram acionadas quando um deles vinha retornando. Só após a passagem do primeiro pelo ponto de bifurcação, o bonde que estava a espera podia enveredar pelo trecho de via única. Além disso, com o objetivo de facilitar o tráfego foram criados dois ramais de desvio junto às Ruas Tuiuti e São Jorge. Mais tarde, este último foi alongado até o final da rua, para levar os torcedores que iam assistir aos jogos do Corinthians.