A vacina contra o HPV (papilomavírus humano) disponibilizada pelo Instituto Butantan no Sistema Único de Saúde (SUS) terá uma campanha reforçada neste ano, conforme anunciado pelo Ministério da Saúde em março. O objetivo é resgatar a imunização de jovens de 15 a 19 anos, que foram incluídos no Calendário Nacional de Vacinação de HPV no ano passado. Antes, o imunizante gratuito só estava disponível para meninas e meninos dos 9 aos 14.
LOCAIS ESTRATÉGICOS
A ação para adolescentes de 15 a 19 anos será realizada em fases, inicialmente nos 120 municípios com os maiores índices de jovens sem vacinação. A meta do Ministério é vacinar 90% desse grupo, adotando locais estratégicos para as campanhas, como escolas, universidades, shoppings e ginásios esportivos, além dos postos de saúde. No estado de São Paulo, entre os municípios contemplados na estratégia de resgate, estão Bauru, Campinas, Carapicuíba, Cotia, Guarulhos, São Paulo, entre outros.
VIA SEXUAL
O HPV é o principal responsável pelo câncer de colo de útero e causa outros tipos de câncer, como de vulva, vagina, pênis, ânus e orofaringe. A vacina, desenvolvida e aplicada mundialmente há 20 anos, é essencial para prevenir a infecção. O vírus pode ser transmitido não apenas pela via sexual, mas também por meio do contato direto com qualquer região da pele ou mucosa infectada.
ANTIGO MODELO
A ampliação da faixa etária veio em conjunto com a adoção da dose única, que substitui o antigo modelo de duas doses e facilita a adesão do público, além de ampliar a capacidade de imunização. O esquema passou a ser indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) após evidências mostrarem que uma dose pode fornecer proteção equivalente a duas ou três doses em crianças e adolescentes.
No ano passado, o Ministério também incluiu como grupo prioritário pessoas portadoras de papilomatose respiratória recorrente (PRR), condição rara que provoca o crescimento de tumores benignos nas vias respiratórias. Segundo o órgão, estudos demonstram os benefícios da vacina do HPV como tratamento adjuvante para a doença. Também passaram a receber o imunizante pessoas de todas as idades usuárias de PrEP (profilaxia pré-exposição ao HIV).
POR QUE SE VACINAR
Existem mais de 200 tipos de vírus HPV, categorizados entre baixo risco e alto risco de desenvolvimento de câncer, e a vacina quadrivalente do Butantan protege contra os tipos mais prevalentes (6, 11, 16 e 18). Um dos grandes problemas relacionados a esse vírus é a dificuldade de diagnóstico – muitas vezes, ele não causa sintomas nem lesões aparentes, e pode ficar latente no organismo durante anos.
ATIVIDADE SEXUAL
No mundo, o HPV está presente em cerca de 25% a 50% da população feminina e 50% da masculina. A cada ano, o vírus é responsável por 620 mil casos de câncer em mulheres e 70 mil casos em homens, segundo a OMS. A vacina é a única forma segura e eficaz de prevenir esses cânceres. Para uma proteção mais efetiva, o ideal é receber o imunizante antes do início da atividade sexual, entre os 9 e 14 anos, quando há mais chance de ainda não ter tido contato com o vírus.
EFETIVIDADE DA VACINA
Um estudo conduzido no Brasil entre 2018 e 2020 pelo Ministério da Saúde, em parceria com o Hospital Moinhos de Vento de Porto Alegre (RS), analisou a prevalência do HPV no país e a efetividade da vacina na prevenção da infecção. Entre os indivíduos não vacinados, a prevalência de HPV geral e de alto risco foi de 58,6%.
TRANSMISSÃO DO VÍRUS
Outro dado importante revelado pela pesquisa foi que a taxa de infecção por tipos de HPV contidos na vacina quadrivalente diminuiu entre a primeira fase do estudo (2016-2017) e a segunda (2021-2023). A redução ocorreu tanto em pessoas vacinadas como não vacinadas, mostrando que a vacinação ajuda a reduzir a transmissão do vírus na população.
Nos últimos anos, a cobertura vacinal de HPV em meninas no Brasil sofreu uma queda, de 87% em 2019 para 75% em 2022. Nos meninos, a redução foi de 61,55% em 2019 para 52,16% em 2022. Em 2023, a taxa de vacinação voltou a crescer para 80% no público feminino e 60% no público masculino. Apesar do aumento, os números ainda estão distantes da meta de 90% preconizada pela OMS, necessária para de fato controlar as infecções.
SEGURANÇA E EFICÁCIA
A segurança e eficácia do imunizante a longo prazo também já foram comprovadas em outros locais do mundo. Na Suécia, por exemplo, pesquisadores acompanharam durante dez anos mais de 1 milhão de mulheres vacinadas e não vacinadas contra o HPV, com idades entre 10 e 30 anos. Nas mulheres que não tomaram vacina, foram registrados 538 casos de câncer de colo de útero; já nas vacinadas o número de casos foi de 19.
QUEM PODE TOMAR A VACINA NO SUS
- Crianças de 9 a 14 anos;
- Adolescentes de 15 a 19 anos que nunca tomaram a vacina (de acordo com as recomendações de cada município);
- Pessoas com HIV, transplantados de órgãos sólidos, de medula óssea ou pacientes oncológicos na faixa etária de 9 a 45 anos;
- Vítimas de abuso sexual, imunocompetentes, de 15 a 45 anos (homens e mulheres) que não tenham tomado a vacina HPV;
- Usuários de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) de HIV, com idade de 15 a 45 anos, que não tenham tomado a vacina HPV ou estejam com esquema incompleto (de acordo com esquema preconizado para idade ou situação especial);
- Pacientes com Papilomatose Respiratória Recorrente a partir de 2 anos de idade.