Com o fim do ano letivo, escolas da Zona Leste têm apostado em uma prática simples, mas poderosa: as “cartas para o futuro”. A proposta é que os alunos escrevam mensagens para si mesmos, projetando sonhos, metas e reflexões que só serão lidas no final do próximo ano. A atividade, além de simbólica, estimula o protagonismo estudantil, a autorreflexão e o planejamento pessoal — habilidades cada vez mais valorizadas em um mundo que exige consciência emocional e capacidade de projetar caminhos.
A pedagoga Ana Luísa D’Maschio, do portal Porvir, explica que esse tipo de prática fortalece vínculos e ajuda os estudantes a reconhecerem suas conquistas. “É uma forma de valorizar o percurso, não apenas o resultado. Quando o aluno lê a carta um ano depois, ele percebe o quanto cresceu — e isso é muito potente”, afirma. Segundo ela, o exercício também desenvolve a noção de temporalidade, algo essencial para que crianças e adolescentes compreendam que metas são construídas aos poucos.
ESCUTA INTERNA
As cartas funcionam ainda como um exercício de escuta interna. Em um mundo acelerado, parar para escrever sobre si mesmo é um gesto de cuidado e presença. Algumas escolas envolvem as famílias, propondo que pais e responsáveis escrevam cartas aos filhos, criando um momento de afeto, memória e conexão. Em muitos casos, esse ritual se transforma em um registro precioso, guardado por anos.
Além do valor emocional, a atividade tem impacto pedagógico. Professores relatam que os alunos se tornam mais engajados e conscientes de seus objetivos. “Eles passam a entender que o aprendizado não é só nota, mas também trajetória, esforço e autoconhecimento”, conta a coordenadora pedagógica Juliana Prado, de uma escola no Tatuapé. Educadores também observam melhora na escrita, já que os estudantes se dedicam mais quando percebem que o texto tem significado pessoal.
Em tempos de tanta pressão e ansiedade, iniciativas como essa mostram que a educação vai além do conteúdo. Ela toca o emocional, constrói identidade e prepara para o futuro — com lápis, papel e muita sensibilidade. E quando o envelope finalmente é aberto, o que se revela não é apenas uma carta, mas um encontro consigo mesmo.

