Em tempos de excesso de telas e estímulos digitais, a cartilha infantil continua sendo uma ferramenta poderosa na alfabetização e formação dos pequenos. Mais do que ensinar a ler e escrever, ela ajuda a desenvolver autonomia, organização mental e vínculo afetivo com o aprendizado. Muitas escolas ainda utilizam cartilhas como recurso complementar, valorizando o contato direto com o papel e o lápis, algo que resgata a simplicidade e a concentração em meio ao turbilhão tecnológico que cerca as crianças.
A pedagoga Marisa Teles, especialista em alfabetização, explica que a cartilha tem um papel afetivo importante. “Ela marca o início da jornada escolar. É o primeiro livro que a criança sente como seu, com páginas que ela vai preenchendo, rabiscando, descobrindo”, afirma. Segundo Marisa, esse vínculo emocional favorece o engajamento e a autoestima dos alunos, que passam a enxergar o processo de aprender como algo prazeroso e significativo. Para muitos, é também o primeiro contato com a ideia de responsabilidade: cuidar do próprio material, acompanhar as páginas, perceber sua evolução.
COORDENAÇÃO
MOTORA
Além disso, a cartilha estimula a coordenação motora, a atenção e o senso de progressão. Cada página vencida é uma conquista. “É diferente de um aplicativo, onde tudo é imediato. Na cartilha, o aluno percebe que está avançando, que está construindo algo”, diz a professora Ana Paula. Ela destaca que o movimento de segurar o lápis, traçar letras e repetir exercícios fortalece habilidades essenciais para etapas futuras da escrita e da leitura. É um aprendizado que envolve corpo, mente e emoção.
Muitas escolas têm modernizado o uso da cartilha, combinando-a com atividades lúdicas, jogos e recursos digitais. A integração entre o tradicional e o contemporâneo tem mostrado bons resultados, pois permite que a criança transite entre diferentes linguagens e formas de aprender. Mas o papel da cartilha como base permanece. “Ela é o alicerce. Depois vêm os livros, os textos, os projetos. Mas tudo começa ali, com o ‘ba-be-bi-bo-bu’”, brinca Marisa. Para os educadores, a cartilha funciona como um mapa inicial, que orienta o aluno antes de ele explorar caminhos mais complexos.
TRAJETÓRIA
ESCOLAR
Em um mundo cada vez mais acelerado, a cartilha infantil nos lembra que aprender também pode ser um processo lento, afetivo e cheio de descobertas. Ela convida a criança a olhar para cada letra com curiosidade, a celebrar pequenas vitórias e a construir, passo a passo, a base de toda a sua trajetória escolar. É um instrumento simples, mas carregado de significado — e que continua resistindo ao tempo justamente porque toca o essencial.

