Alguns hábitos são quase inegociáveis para Carolina Dieckmmann. Na tevê há mais de 30 anos, a atriz construiu uma trajetória bem-sucedida nas telenovelas clássicas. Por mais que o formato tenha se modificado e o mercado de audiovisual tenha aberto diversas vertentes, a intérprete da ambiciosa Leila, de “Vale Tudo”, não abre mão de integrar um projeto tão tradicional da tevê brasileira. Não à toa, Carolina acreditou no folhetim do início ao fim da atual trama das nove, que caminha para seus momentos derradeiros. “Antes de ser atriz, eu sou fã de novela. Faz parte da minha história. construí minha carreira na televisão, priorizando a tevê. Tive momentos muito agraciados. Por isso é tão importante participar de uma novela icônica como ‘Vale Tudo’”, afirma.
Na trama das nove, Leila é ex-esposa de Ivan, papel de Renato Góes. Ambiciosa, ela gosta de fazer as coisas no seu tempo e de ter a quem pedir ajuda. Cresceu ouvindo de sua mãe que “era bonita demais para trabalhar” e, por mais que não acredite nisso, algo desse lema ecoa nas suas atitudes. Ao lado de Marco Aurélio, de Alexandre Nero, ela perde qualquer senso de ética e moralidade, mergulhando de cabeça em um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro na TCA. “Fiz a Leila bem sonsa. Assim, ela teria os caminhos abertos para essa dubiedade de caráter”, aponta.
P – Após seis anos morando no exterior, sua presença nas novelas se tornou esporádica. O que chamou sua atenção no projeto de “Vale Tudo”?
R – Eu sou muito fã de dramaturgia. Como fã, não pensei duas vezes. Queria participar desse momento de celebração da teledramaturgia. Eu quase fiquei com vergonha de ter sido chamada para viver a Leila. Mas é um momento muito especial da tevê. De qualquer forma que seja, “Vale Tudo” é uma trama que chama a atenção do público.
P – Como assim?
R – Muita gente não viu a novela e vê uma cena e se emociona. As cenas de “Vale Tudo” falam muita coisa. É uma trama que faz pensar e emociona ao mesmo tempo.
P – Mesmo com tantas movimentações do mercado, streamings e novos formatos, as novelas ainda são seu principal foco dramatúrgico?
R – Sim. Estou feliz demais de viver esse momento em “Vale Tudo”. Novela faz parte da minha história. Antes de ser atriz, eu sou fã de novela. Eu fiz carreira inteira na televisão, priorizando a tevê. Tive momentos muito agraciados diante do vídeo. Então, integrar esse projeto faz muito sentido para mim.
P – Você tem memórias da versão original?
R – A vida inteira fui apaixonada por novela. Tinha 10 ou 11 anos quando passou a versão original e minha mãe também fazia sanduíche natural para vender na praia. Tenho uma certa conexão com essa novela.
P – Ao longo da novela, a Leila foi passando por certas transformações. Como foi encarar essa mudança na caraterização no ar?
R – O visual atual dá uma ideia de uma mulher mais cuidada, que gasta mais tempo e dinheiro com isso. A Leila é uma mulher que continua tendo o gosto e as escolhas dela, mas com mais recursos. Isso traz mais opções a ela, que passa a usar roupas com tecidos mais nobres, como renda e seda. Com o cabelo, a ideia é a mesma. Ela hoje tem mais dinheiro e mais tempo para poder se cuidar e ter essa aparência impecável. Isso, no entanto, me distancia bastante dela (risos).
P – Por quê?
R – Essa coisa de ter uma aparência mais cuidada não é muito a minha praia. E, por isso mesmo, me dá um outro prazer, num outro lugar, que é eu estar totalmente disponível e com a cara de um personagem. Toda vez que eu consigo me distanciar das minhas escolhas como Carolina, acho que agrego mais à minha profissão e à minha disponibilidade para as personagens. É uma coisa que eu tenho o maior prazer.
P – Você apostaria na Leila como a assassina da Odete novamente?
R – A minha Leila é uma sonsa. Qualquer coisa que ela faça, a gente pensa que ela capaz de fazer. Ela pode ser uma mocinha ou uma vilã. E pode matar alguém também. Se Leila não matar a Odete, quem sabe não mata outra?