Lidar com presente, passado e futuro não é uma tarefa fácil. Alice Wegmann, por exemplo, passou boa parte de sua juventude confabulado sobre questões que ficaram para trás. Hoje, a intérprete da decidida Solange de “Vale Tudo”, se permite curtir o momento atual. No ar no horário nobre da Globo, Alice tem parado para colher os louros de uma carreira diversa e em ascensão no vídeo. “Já fui muito uma mulher do passado. Mas hoje me permito curtir o presente. Estou apaixonada por onde estou e pelo que colhi. Está sendo um momento muito especial da minha vida e a minha carreira”, valoriza Alice, que também pode ser vista na terceira temporada de “Rensga Hits”, original Globoplay.
Na trama das nove, Solange é uma jovem de um humor rápido, urbano e sofisticado. Começou a trabalhar na Europa e veio para o Brasil há cinco anos, quando assumiu o cargo de diretora de criação na Tomorrow. Apaixonada por Afonso, papel de Humberto Carrão, ela vê a relação acabar após uma série de armações de Fátima, de Bella Campos. Além disso, a jovem é desafeta da inescrupulosa Odete Roitman, de Débora Bloch, que a vê como uma ameaça ao controle que tem na vida do filho. “Acho que, para a Solange, vale tudo, mas com suas limitações. Ela tem o certo e o errado bem claros na cabeça dela. Não passa por cima de ninguém. É bem íntegra e correta”, defende.
P – Sua última novela havia sido em 2019, quando participou de “Órfãos da Terra”. Como surgiu a oportunidade para integrar o elenco de “Vale Tudo”?
R – Quando eu estava rodando um filme no Pará, a Manuela Dias me ligou. Eu sabia que “Vale Tudo” era meio o assunto do momento, mas acreditava que o elenco já estivesse escalado. Nessa ligação, ela já fez o convite para viver a Solange. Fiquei feliz porque já tínhamos feito juntas alguns projetos, como “Ligações Perigosas” e “Justiça 2”. Inclusive, meio que “Vale Tudo” começou quando a gente estava fazendo “Justiça”.
P – Como assim?
R – Ainda na época da minissérie, a gente teve uma reunião. A Manuela me contou que o astrólogo dela falou sobre uma novela das nove. Na época, fiquei arrepiada do dedo do pé ao último fio de cabelo. Sabia que tinha uma força naquilo que ela estava falando. Quando ela me ligou, tudo fez sentido. Essa conversa veio logo na minha mente. Sabia que era para eu estar nesse projeto, meu coração está muito nessa novela. É um novelão que fala do Brasil.
P – Você, no entanto, tem engatado uma série de projetos no streaming. Precisou recusar algum convite para estar em “Vale Tudo?”
R – Sim, abdiquei de um projeto para estar em “Vale Tudo”, mas não gostaria de estar em nenhum outro lugar nesse momento. Estou feliz e realizada. Estava com saudade de fazer novela. Tem uns cinco anos que não faço. Estou num momento da minha carreira que posso escolher meus trabalhos a dedo. Não tinha como dizer não para uma novela como essa.
P – Ainda na primeira versão, a Solange já era uma mulher à frente do tempo. Quais atualizações a personagem passou para o remake?
R – A Lídia Brondi construiu a Solange brilhantemente. É uma personagem moderna para aquela época e continua muito moderna. Agora falamos de diabetes, um assunto pouco falado no audiovisual, e a personagem tem isso. Recebi mensagens de mães falando dos filhos que sofrem desse distúrbio e muita gente nem sabe o que é uma hipoglicemia.
P – A novela, no entanto, enfrenta uma série de críticas. Como tem lidado com tantas opiniões enquanto o projeto vai ao ar?
R – Nunca tinha feito um remake, é meu primeiro. Queremos honrar a trama e trazer muita originalidade. A pessoa que ficar olhando o tempo todo no retrovisor vai perder uma viagem maravilhosa. Estamos contando uma história linda e atual.
P – Você chegou a rever a versão original?
R – Antes das gravações, eu tinha visto uns cinco capítulos e algumas cenas soltas. Fiquei me questionando se seria bom ou não assistir ao folhetim. A gente pode ficar se comparando, né? Mas decidi ver. Fui para o episódio seis e, quando percebi, já tinha passado do capítulo 70. Acho que tudo que faço da minha vida é ver “Vale Tudo” e fazer “Vale Tudo” (risos).
P – Desde o início do processo da novela, você teve algum contato com a atriz Lídia Brondi?
R – Não tive, mas tenho uma vontade enorme. Não sei como vou chegar lá. Não quero assustar ou ser invasiva. A Lídia é uma referência linda, não só como atriz, mas como mulher que decidiu construir uma vida fora dos holofotes — e com muita dignidade. Eu super respeito isso. A gente tem de saber respeitar os espaços das pessoas. Torço por esse encontro.