A Prefeitura de São Paulo tem adotado uma estratégia inovadora para conciliar desenvolvimento urbano e preservação ambiental: o transplante de árvores. A técnica, que vem sendo aplicada em áreas de obras e grandes intervenções, garante que exemplares adultos sejam removidos com segurança e replantados em bosques urbanos da capital, evitando seu corte e assegurando a continuidade de seu papel ecológico.
BRT RADIAL LESTE
Nas grandes obras da Prefeitura, como a construção do BRT Radial Leste e do reservatório da Mooca, o transplante tem sido a solução para preservar árvores que inevitavelmente seriam removidas. Trata-se de uma grande operação. O transplante de uma árvore de médio porte pode envolver cerca de sete profissionais — entre operadores de maquinário, técnicos de manejo e agrônomos — e custar entre R$ 10 mil e R$ 30 mil, a depender da complexidade do processo e da distância de transporte.
No caso do BRT, sete exemplares — entre eles três guarirobas, duas sibipirunas, um pau-brasil e uma manduirana — foram realocados para o Bosque do Canário, na Avenida 23 de Maio. Já o reservatório da Mooca deu origem a outro exemplo marcante: uma goiabeira adulta foi cuidadosamente retirada e transportada por mais de 10 km até o Bosque do Macuco, que está em implantação na região da Ponte Jânio Quadros.
MANUTENÇÃO
De acordo com o engenheiro agrônomo, Matheus Roussenq, da Secretaria Municipal das Subprefeituras, por serem, normalmente, adultas e maduras, as árvores transplantadas preservam o valor paisagístico e contribuem para a manutenção da fauna local, que usa essas espécies como habitat. “Além disso, as árvores adultas capturam e armazenam mais dióxido de carbono do que as jovens, o que contribui diretamente para a mitigação das mudanças climáticas e evita a liberação do carbono armazenado”, explicou Roussenq.
O transplante dessas espécies envolve um grande desafio logístico, já que cada árvore adulta, somada ao torrão de solo que protege suas raízes, pode pesar tanto quanto um caminhão carregado. Uma guariroba, por exemplo, pode atingir de 2 a 3 toneladas quando transplantada; já uma manduirana chega a até 5 toneladas. Árvores maiores, como o pau-brasil, alcançam entre 6 e 10 toneladas, enquanto uma sibipiruna pode superar 15 toneladas. Esses números explicam a necessidade de maquinário pesado, equipes especializadas e planejamento detalhado em cada operação — fatores que elevam o custo do processo e ajudam a compreender por que a técnica, embora eficaz, não pode ser aplicada em todas as situações.
VALOR
PAISAGÍSTICO
“Por normalmente serem adultas e maduras, as árvores transplantadas preservam o valor paisagístico e contribuem para a manutenção da fauna local, que usa essas espécies como habitat. Além disso, árvores adultas capturam e armazenam mais dióxido de carbono do que as jovens, o que contribui diretamente para a mitigação das mudanças climáticas”, explica Roussenq.
Para escolher as árvores que serão transplantadas, os especialistas observam a saúde do exemplar, se há danos estruturais significativos ou problemas fitossanitários. “As espécies mais adequadas para o transplante possuem raízes superficiais e fibrosas, que facilitam a preservação e aumentam as chances de adaptação. Já as árvores com raízes profundas são menos indicadas, pois a remoção pode danificar suas raízes, comprometendo a sobrevivência”, explicou.
A prática reforça a política de criação dos Bosques Urbanos, áreas verdes que funcionam como verdadeiros pulmões da cidade. Já são dez unidades inauguradas e outras 40 previstas, com o plantio de mais de 120 mil mudas. Além de recuperar ecossistemas, ampliar a permeabilidade do solo e atrair fauna nativa, os bosques têm ajudado a reduzir a poluição do ar: a cada sete árvores plantadas, é possível retirar uma tonelada de carbono da atmosfera nos primeiros 20 anos.




