Felipe Simas encontrou seu caminho dentro da televisão ao longo dos últimos anos. O ator, que integra o elenco de “Dona de Mim”, acumula uma boa cota de papéis de destaque no vídeo em mais de seus 10 anos de carreira. Mas ainda que esteja sob os holofotes, Felipe é avesso a estrelismos e tem plena consciência da instabilidade que uma trajetória artística carrega. “Essa profissão não é apenas minha paixão. Então, eu encaro com muito profissionalismo, sabe? Eu entendo que é muito bom viver daquilo que eu amo, mas, acima de tudo, é muito bom poder pagar as contas e a escola dos meus filhos com aquilo que eu amo”, explica ele, que vive o controverso Danilo.
É exatamente o oposto do que acontece com Danilo em “Dona de Mim”. O personagem fez faculdade de Administração, mas nunca conseguiu uma vaga no mercado trabalho para exercer a profissão que escolheu. Isso provoca um grande ressentimento no rapaz. Para se sentir um pouco dono do próprio destino, Danilo prefere ser motorista de aplicativo e se considerar um empreendedor, em vez de trabalhar na padaria da família. “É o típico brasileiro que se forma e não pode trabalhar com aquele diploma que batalhou para conquistar. Há uma frustração é muito grande nele, o que cria um lado mais sombrio”, aponta.
P – Você estava no elenco da série bíblica “Paulo, O Apóstolo”, mas a escalação acabou não se confirmando. Como foi esse processo até chegar ao enredo de “Dona de Mim”?
R – Eu tenho uma relação muito especial com a Rosane. Saber que seria uma novela dela pesou na minha decisão. Mas eu não fechei portas por lá. Eu conversei com o Leo (Leonardo Miranda, diretor) e expliquei a situação. Fiquei muito agradecido pelo convite. A história de Paulo é muito bonita e tenho certeza de que é um produto muito bonito. Espero que todos lá sejam tão felizes quanto estamos sendo aqui. Sei que as coisas aconteceram como deveriam.
P – Como assim?
R – Eu não acredito em coincidências. Acredito que as coisas acontecem como devem acontecer. E foi por muito pouco que não estive no elenco da minissérie, mas estou muito feliz com esse reencontro com a Rosane. Ela escreveu o Jonatas (“Totalmente Demais”), que é um dos meus personagens mais importantes.
P – Como tem sido essa troca com a autora ao longo do projeto?
R – É muito interessante quando eu converso com ela. A gente sempre tenta pescar o máximo de informação possível para ir construindo o personagem. O Danilo é um personagem que carrega um lado sombrio. Me faz mostrar um lado diferente na televisão. Geralmente, tenho feito personagens mais alegres e felizes. Vejo o Danilo dialogando com aquelas pessoas mais frustradas e que carregam uma dor no coração.
P – Por quê?
R – É um núcleo bem complexo com muitas dores e traumas. O abandono materno é como se parte do coração fosse arrancada do próprio corpo. A dor é constante na vida da família e carrego essa dor através do Danilo, o meu personagem. Há um buraco quase inconsolável.
P – Você já acumula mais de 10 anos à frente do vídeo, mantendo-se no ar constantemente. Como tem sido esse direcionamento da sua carreira?
R – Acho que as portas são abertas porque são. Tem muita gente boa que as portas não foram abertas. E o público não vê esses talentos porque não tiveram oportunidades. Quando eu estudei para viver o Xororó, ele é uma das vozes mais emblemáticas do país. E algo que sempre tocou foi que nasceu com aquela voz, mas ele cuidou para não perder a voz. Então, talento não é mérito. Mas o que você faz com o seu talento se torna mérito.
P – No entanto, a profissão de ator é bastante instável. Isso nunca assustou você?
R – A gente faz muitos sacrifícios por conta da profissão. Mas são esses sacrifícios que me dão confiança para pisar onde piso hoje. Passei muitas noites trabalhando e estudando. Muitas vezes não pude encontrar meus filhos, muitas vezes tive de viajar em função da profissão.
P – A paternidade foi um momento de amadurecimento pra você?
R – Certamente. Eu tenho muito amor por essa profissão. Ela é o sustento da minha família. Não é apenas minha paixão. Então, encaro com muito profissionalismo. É muito bom viver daquilo que eu amo, mas, acima de tudo, é muito bom pagar as contas, a escola dos meus filhos.