Com as chuvas de verão retornando e marcando presença na capital paulistana é inevitável não ouvir alguma triste notícia sobre a morte de alguém que foi atingindo por um raio. Mas, por que não é raro ouvir uma notícia dessas? Simplesmente porque a cidade de São Paulo ocupa o primeiro lugar em descargas que atingem o solo no sudeste do País, cerca de 20 mil raios por ano caem por aqui.
No Brasil, caem 50 milhões de raios por ano. A explicação é geográfica: é o maior País da chamada zona tropical do planeta – área central onde o clima é mais quente e, portanto, mais favorável à formação de tempestades.
Atualmente, morrem 130 pessoas vítimas de raios por ano no Brasil. A cada 50 mortes por raios no mundo, uma é aqui. Além das vítimas fatais, cerca de 500 pessoas ficam feridas.
POR QUE A ZONA LESTE?
O Grupo de Eletricidade Atmosférica do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apontou que a Zona Leste é campeã no quesito raios por quilômetro quadrado de São Paulo. Caem de 10 a 11 raios por km2 por ano nessa região, número acima da média da cidade, que é de 9,29 raios por km2 por ano.
Nas regiões da Vila Prudente, Aricanduva, Itaquera e Penha, a incidência de raios chega a 11 por km2 por ano. Ou seja, é grande a chance de ao menos 11 raios caírem por ano a no máximo 1 km da sua casa, se você morar, por exemplo, no Jardim Anália Franco ou no Tatuapé.
Para efeito de comparação, a incidência na cidade do Rio de Janeiro é de 2,24 por km2 por ano. Em trechos da Serra do Mar, ainda na cidade de São Paulo, no distrito de Marsilac (extremo Sul), o índice é de 3,5. E o que explica o fenômeno? Segundo o doutor Osmar Pinto Junior, coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT) do Inpe, o motivo é que, sobre esta região, se situa o máximo das temperaturas superficiais na cidade devido a “ilha de calor” produzida pela urbanização.
Infelizmente o instituto não possui dados de mortes por raios por região. Mas sabe-se que a cidade de São Paulo é a segunda cidade do Brasil com mais mortes por raios – foram 19 mortes de 2000 a 2012. À frente está Manaus, com 20 mortes no período.
MORTE POR RAIO
Em setembro de 2014, três pessoas morreram após serem atingidas por um raio na Zona Leste de São Paulo. A descarga elétrica ocorreu na Rua São Felipe, na esquina com a Avenida Condessa Elizabeth Robiano, segundo a Polícia Militar.
As vítimas – três homens sem identificação – foram levadas para o Pronto Socorro Municipal do Tatuapé com queimaduras graves, mas não resistiram aos ferimentos. A Secretaria Municipal de Saúde confirmou o falecimento dos três após algumas horas.
RAIO MATA MAIS QUE ENCHENTE
Um levantamento realizado pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT) do Inpe mostra que, em consequência de uma tempestade, as vítimas por raios estão em maior número do que as vítimas de enchentes e deslizamentos. De 1991 a 2010, 2.640 pessoas morreram atingidas por raios, contra 2.475 pessoas que perderam a vida por causa de enchentes e deslizamentos.
MITOS E CURIOSIDADES
Quando o assunto são os raios, muita gente tem uma crença ou uma superstição a respeito, porém algumas delas são infundadas. Quem diz que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar está enganado. Prova disso é o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, que recebe ao menos seis descargas atmosféricas por ano. Vale lembrar que espelhos não atraem raios e não precisam ser cobertos por panos durante uma tempestade. O mito vem dos tempos em que os espelhos tinham molduras metálicas bem grossas – elas, sim, um atrativo para as descargas. Outro mito que se tem é de que carros seriam chamarizes para os raios. Na hora de uma tempestade, por incrível que pareça, o automóvel é um dos melhores locais para se proteger de um raio. Se o carro for atingido por um raio, a descarga elétrica se espalha por sua superfície metálica, sem atingir quem está dentro dele.
PREVENÇÃO
Para se prevenir dos raios o ELAT recomenda que, quando estiverem em casa, as pessoas não usem telefone com fio, não fiquem perto de tomadas, canos, janelas, portas metálicas e não toquem equipamentos ligados à rede elétrica.
Quando se encontrarem ao ar livre deve-se evitar segurar objetos metálicos longos (varas de pesca, tripés, tacos de golfe etc.), empinar pipas e aeromodelos com fio, andar a cavalo, nadar e ficar em grupos.
Pequenas construções (tendas, barracos, celeiros), veículos sem cobertura e árvores oferecem risco e não protegem. Topos de morros e de prédios, áreas descampadas, estacionamentos, cerca de arame, torres e árvores isoladas oferecem grande risco.