Não importa o país, o populismo está sempre presente na política. Basta olharmos para Barack Obama, em plena campanha para o segundo mandato de presidente dos Estados Unidos. Com sorriso largo e simpatia ele anunciou, na semana passada, tendo como fundo o castelo da Disney, que facilitará o ingresso de brasileiros no seu país. Em Nova York, durante um evento público, Obama até cantou, para o delírio de seus fãs.
Tudo bem que ele seja popular por sua espontaneidade, mas o presidente do país considerado o mais poderoso do mundo não iria dar ponto sem nó. O Brasil está em quinto lugar em viagens de turismo para os Estados Unidos. Sabe lá o que é isso? É a classe C tentando tirar o pé da lama, pagando passagens de avião e passeios em várias parcelas no cartão de crédito.
Quem não quer ir para os EUA conhecer o Mickey e a Minnie de perto? Vamos lá levar o nosso dinheiro para o Tio Sam. Viajar pelo próprio Brasil? Para que? Na terra de faz de conta tudo é perfeito. Não há lugares feios, pessoas pobres e muito menos sem educação. Será? O brasileiro tem mania de achar que o que vem de fora é melhor, quando, na verdade, hoje em dia quase tudo vem da China, inclusive a lembrancinha comprada na Disney, às custas de trabalho escravo.
Não é errado querer melhorar sempre, estudar, trabalhar, ter um bom salário e poder viajar. A questão mais complicada está em se deixar levar apenas pela vontade de consumir, quando também podemos conquistar conhecimento. Orlando, na Flórida, onde estão os parques temáticos da Disney, é um mundo à parte. Diferente de Nova York, por exemplo, que não difere muito de São Paulo enquanto metrópole. Claro que é mais estruturada e organizada em vários pontos, porém ainda sofre com o preconceito, a falta de hospitalidade, entre outras dificuldades.
Volto a dizer que não se deve ser simplesmente contra viajar para os EUA ou reclamar do fato de Obama facilitar as coisas para nós por querer o nosso dinheiro. O fato é que o esforço dele está relacionado ao momento vivido por seu país e aos questionamentos feitos por seus compatriotas, quanto à recessão e ao desemprego.
Do nosso lado, podemos muito bem escolher outros roteiros, quem sabe até a Europa, por exemplo. Pelo menos iríamos adquirir mais cultura e, de quebra, estaríamos em contato com especiarias e pratos deliciosos da gastronomia mundial. Se as pessoas guardaram dinheiro e agora podem gastar, não é preciso deixar tudo na mão do Pato Donald. Seja mais como Tio Patinhas nessa hora e pense bem na maneira como vai investir o que foi acumulado com tanta luta.
Outro fator ao qual devemos estar atentos refere-se ao tempo em que o Tio Sam continuará “amiguinho” do Brasil. Enquanto formos subservientes às regras impostas por empresas e grupos americanos, ganharemos elogios e seremos chamados de parceiros. No entanto, quando nosso país começar a incomodar os EUA com produtos competitivos e obter mais respeito das potências da Europa e do oriente, tenham a certeza de que o discurso será bem diferente.
O Brasil tem tudo para virar o jogo, mas precisa olhar para si mesmo por meio dos próprios governantes. Do que adianta se destacar como turistas lá fora se nos envergonhamos da pobreza existente aqui dentro, quando viajamos para lugares como Alagoas, Maranhão, Porto Seguro, entre outras lindas cidades brasileiras. Vamos fazer como Barack Obama, guardadas as devidas proporções, exaltar as nossas belezas, sem deixar de melhorarmos a todo o instante enquanto povo e como um país em desenvolvimento.