Sr. redator:
“Assisti o programa TV Brasil onde o secretário da Educação foi entrevistado e como professora me senti aviltada com as palavras proferidas por ele nessa entrevista. E o que mais me incomoda é que vocês, repórteres, não pesquisam sobre o assunto e, por conseguinte, não questionam verdadeiramente o entrevistado.
A greve está acontecendo e muitos pais estão apoiando essa atitude, pois esperar três anos para ter um aumento de 13,48%, para qualquer outro trabalhador da empresa privada seria inadmissível e a greve seria legítima. Gostaria de pontuar que esse aumento que o secretário diz estar nos dando graças ao esforço desse governo é uma inverdade, pois o ex-prefeito Kassab no ano passado já tinha aprovado o aumento, também conseguido por causa de greve, pois para eles, nós professores somos uma subclasse.
Quanto ao piso de três mil reais é outro engodo, pois não refletirá nas outras faixas salariais, e se pesquisarem, bem poucos professores recebem esse piso, e por isso não haverá mudança na folha de pagamento do governo. Eu sou professora há 15 anos, estou no QPE 19 b, e recebo o valor de R$ 3.369,00 por uma jornada de 30 horas semanais.
Sou graduada em Pedagogia, com especializações e duas pós-graduações, além de cursos de formação por iniciativa particular, pois entendo que a educação é primordial para a evolução positiva da sociedade, e minha obrigação profissional é me reciclar constantemente para melhorar minhas práticas pedagógicas.
Com a fixação desse piso salarial, eu receberei R$ 369,00 a mais que um professor que ingressar agora, desconsiderando o tempo e formação acadêmica. Isso é valorização da carreira de professor?
Como relatado acima, dei uma pequena visualização do quadro verdadeiro que vivemos em nosso dia a dia, sobre como não somos valorizados, bem diferente do que o secretário tentou demonstrar na entrevista. Pelo contrário, a cada dia tenho mais certeza que a proposta do governo para a educação é ter professores desmotivados, obtusos, malformados, alienados, mal pagos, para que não se esforcem em proporcionar um ensino de qualidade a seus alunos, mantendo grande margem da sociedade semialfabetizada, acomodada, inferiorizada educacionalmente e socialmente, para que os governantes possam manter seus status quo.
Isso é só a ponta do iceberg da educação, pois não citei as condições precárias dos prédios, do material escolar de péssima qualidade, o processo de inclusão de crianças de maneira estabanada, sem nenhuma formação para o professor, sem acompanhamento específico a essa criança e família, gerando um estresse profissional e, por conseguinte, licenças médicas, readaptações e falta de professores nas unidades.
Seria interessante uma pesquisa mais aprofundada sobre o nosso lado, dessa trágica história de persistência em uma profissão fadada ao desrespeito e descaso, e as consequências para uma educação falida, defasada, arcaica, desconsiderada como base para uma sociedade evoluída e progressista.
Sem mais, agradeço a atenção e espero que as minhas palavras sejam consideradas tão importantes como as do secretário.”
Elizabeth Carneiro Bergamasco
Professora de Educação Infantil da Prefeitura de São Paulo