Buscar a perfeição pode se tornar um grande tormento e até um problema que traz desequilíbrio emocional
Todo perfeccionista é ansioso e sua forma de ser transforma-se em neurose de ansiedade. Buscar a perfeição passa a ser sua busca sem fim.
Para entender como pensa um perfeccionista, fiz uma analogia com o mito da perfeição, que conta a história de Narciso. Na mitologia, Narciso é o jovem que morreu fascinado com sua própria imagem, nesse caso, com sua própria perfeição. Todo perfeccionista pensa que só ele consegue fazer perfeito e mais ninguém, mas acaba por acreditar que a melhor maneira de ser ou de se fazer é a sua.
Voltando ao mito de Narciso, o mesmo tem uma interação e rejeita a Ninfa Eco, por não conseguir se sentir amado por ninguém, novamente, a analogia com alguém que busca a perfeição em todas as áreas da vida. É quase impossível alguém estar a altura da perfeição desejada pelo perfeccionista. As relações acontecem, mas nunca são satisfatórias, parece que o outro nunca é perfeito.
Sendo assim, no mito, Narciso desfaz da Ninfa e depois também morre encantado pela sua própria imagem.
O mito da ninfa Eco que, rejeitada pelo amado Narciso, resolveu se afastar do mundo nas cavernas e passou a repetir a última expressão ouvida em vida, retrata uma das grandes expressões da tendência humana, a repetição das situações e ideias já conhecidas sempre e eternamente opostas ao novo.
Isso acontece com um bom perfeccionista, que fica impelido de viver, de amar, refugia-se na sua mente que, como uma caverna, o mantém em um processo eterno de repetição de padrões. Esta é uma verdade, a nossa mente tende a repetir. Há pessoas que passam a vida inteira repetindo. Pouquíssimas conseguem uma pequena cota do novo em suas vidas. São pessoas que passam a vida representando padrões e “verdades” profundas. Não permitem que o novo apareça e se defina. O novo deveria ser a percepção da inevitável transformação.
Ou seja, neste contexto, Eco significa repetição dos mesmos conceitos e pensamentos. Ou melhor, dos mesmos padrões.
Quanto a Narciso, a mensagem ligada à ilusão da eterna perfeição, é de qualquer ser que busca em demasia a perfeição, deixará de viver a realidade, sendo que poderia viver muito mais. Viver no sentido não apenas de tempo, mas de desfrutar a vida e seus prazeres e só conseguiria isso se ao menos aprendesse a conhecer a si próprio. Qualquer um que acredite que precisa ser perfeito, que não olhe além de si mesmo, e não enxergue quem realmente é, transforma-se em alguém que foge do padrão humano, de que somos passíveis de erros e que aprendemos com eles e, portanto, são as experiências certas ou erradas que transformam a nossa vida.