Desde o início da pandemia da Covid-19, inúmeros sentimentos tomaram conta da sociedade brasileira, afetando de maneira explícita a saúde mental da maioria da população. Mas o que já se esperava foi comprovado agora por meio de uma pesquisa: o medo foi o sentimento predominante na população nesse período.
Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e a Associação Brasileira de Impulsividade e Patologia Dual (ABIPD) ouviu em 2020 mais de 200 mil profissionais de saúde e cerca de 8 mil pessoas de outras áreas.
O resultado mostrou que o medo de infectar pessoas próximas e levar o vírus para dentro de casa imperou entre os entrevistados. Não à toa.
Com as primeiras notícias que surgiram do novo coronavírus, pouco se conhecia sobre a forma de atuação e as suas consequências. No entanto, uma das primeiras medidas adotadas em todo o mundo, inclusive em alguns estados brasileiros, foi a recomendação de isolamento e distanciamento social.
Com a paralisação da maioria dos serviços, a adoção de trabalho e estudo em casa – e o medo de contrair a doença e contaminar familiares – dúvidas, insegurança, angústia, raiva, depressão e ansiedade surgiram e deixaram suas marcas.
Somatização
Quanto mais tempo em casa, somado à crise econômica que despontava, e a incerteza de quando a vida poderia voltar ao que era antes, mais a saúde mental das pessoas era comprometida.
Tanto que outras pesquisas identificaram que, por conta da pandemia, a ansiedade aumentou entre os idosose jovens de periferias.
A consequência desse processo pode ser tão grave que já mostrou alguns sinais e, de acordo com os especialistas, deve levar um bom tempo para ser normalizada.
Prova disso é que alguns dos entrevistados na pesquisa chegaram a ter sintomas da doença sem nem ao menos estarem infectados. É o que os especialistas chamam de somatização, quando o medo é tão forte que gera sintomas físicos nas pessoas.
Ação
Por isso, a ideia é que os resultados e análises obtidos na primeira fase da pesquisa sirvam de base para que se possa planejar medidas de prevenção e atenção à saúde mental e pública.
ParaJoana Dias, especialista em Saúde no Guia de Bem-Estar, a população também deve ficar atenta aos seus sentimentos e procurar ajuda.
“É um momento de desafios para todos. A qualquer sinal de tristeza profunda, medo e ansiedade é preciso procurar um terapeuta, grupos de apoio ou amigos para evitar que o problema cresça”, explica Joana.
Próxima fase
Agora, na segunda fase, que teve início no final de 2020, o estudo segue no intuito de avaliar como as pessoas estão enfrentando esse processo, como estão sobrevivendo ao medo e às longas restrições e incertezas impostas pela pandemia.
Os especialistas esperam que se verifique uma maior resiliência nas pessoas, já que com o passar do tempo a sociedade tem aprendido a lidar com as restrições.
Exemplo disso, é a forma como os pais têm usado a criatividade para tornar a quarentena mais saudável para criançase como os idosos tem se reinventado para enfrentar o isolamento.