A escola estadual Professora Herminia de Andrade Pfuhl Neves, localizada no Parque Guarani, é exemplo quando o assunto é educação multidisciplinar. Logo na lateral da entrada da instituição é possível reparar em um espaço diferente, com cenários distintos, local que é dedicado a pesquisa e chamado de “laboratório vivo”.
Tal projeto foi idealizado a cerca de um ano pelo professor de história William Melchior Pinto, e com a ajuda de outros colegas de trabalho e também professores, pôde virar realidade.
SÍTIO ARQUEOLÓGICO
Projeto pioneiro em escolas estaduais de São Paulo, o Sítio Arqueológico instalado na escola, pretende demonstrar a importância do patrimônio histórico e cultural na formação da cidadania dos alunos, pois a Arqueologia em seu contexto interdisciplinar dialoga com diferentes conteúdos possibilitando aulas mais criativas e motivadoras.
Parte dessa criatividade é demonstrada na concepção da atividade, que consiste em desenterrar alguns objetos que os professores implantam no espaço e que precisam ser descobertos pelos alunos, quase como uma “caça ao tesouro”. Além do exercício lúdico de escavar, os alunos se deparam com objetos indígenas, alguns comprados e outros feitos pelos próprios estudantes – como as máscaras – e também com pinturas rupestres que eles mesmos reproduziram nas paredes.
“Nossa eles adoraram fazer as pinturas e montar as máscaras indígenas, pois eles tiveram total liberdade de criação. É bastante diferente de uma aula em sala de aula. Eu como professor posso dizer que estou realizado” relata William.
ITINERANTE
Juntamente com William, a diretora da escola, Maria José Leitão de Andrade, sonha em tornar o projeto itinerante. “Talvez com um ônibus ou até mesmo levando o projeto para outras escolas. O importante é que o conhecimento se espalhe. Então estamos trabalhando para isso” diz Maria.
O problema é que tais ações demandam investimentos, que mesmo com ajuda do PDEE (Programa Dinheiro na Escola) não são suficientes para poderem se concretizar.
Para deixar o projeto da maneira em que ele se encontra atualmente, foram gastos aproximadamente 15 mil reais, sendo que boa parte desse valor foi bancada pelos próprios professores.
DITADURA MILITAR
Do lado do Sítio Arqueológico, há um espaço destinado à memória da Ditadura Militar e suas vítimas. Uma caixa d’água desativada representa às celas aos quais inimigos do Estado, os chamados “terroristas” e os “subversivos” eram submetidos às sessões de tortura. Dentro da caixa d’água, os alunos escreveram frases de músicas relacionadas aos protestos da época e também pintaram figuras de revolucionários, como o Che Guevara.
Há também cruzes fincadas no chão que representam os mortos e desaparecidos do golpe civil-militar, que no dia 31 de março, completou 50 anos.
Para aproveitar o mesmo gancho do tema violência, a intenção era também falar, no mesmo espaço, sobre a Chacina na Candelária, crime que ocorreu em 1993, próximo à Igreja da Candelária, localizada no Rio de Janeiro e no qual oito jovens sem-teto foram assassinados por policiais militares. Todavia William disse que o dinheiro destinado à compra da tinta acabou e por isso essa atividade ficou suspensa.
HORTA
Como o projeto é vivo e sempre surgem novas ideias, o próximo passo é iniciar a plantação de uma pequena horta no espaço multidisciplinar da escola. Com isso, os professores pretendem relacionar os conhecimentos práticos obtidos com o trabalho na horta às atividades realizadas em sala de aula para que os alunos adquiram conhecimentos relacionados, por exemplo, aos diferentes tipos de solo e aos benefícios das vitaminas. Incentivar os estudantes a consumir legumes e verduras e conscientizá-los da importância de saborear um alimento saudável e nutritivo são alguns dos objetivos da iniciativa.
FALTA
Para que os projetos saiam do papel os professores pedem apoio de empresas privadas e escolas que queiram fazer parcerias. “As escolas precisam incentivar seus alunos, ter espaço para pesquisa. Isso ainda é pouco difundido no Brasil. É necessário manter-se atualizado, pois só dessa maneira é que vão surgir mais projetos como este” pede a diretora.