Para o Brasil recuperar sua autoridade será preciso mais que o grito, mais que o protesto. A dignidade e a civilidade do povo são afrontadas a todo instante e a voz da população parece cada vez mais abafada. Afinal, é impossível tolerar tanta desfaçatez e falta de pulso diante de homens que roubam sem o mínimo escrúpulo. Se há o alívio, em ver empresários e políticos corruptos na cadeia, ao mesmo tempo existe a tristeza de vê-los cumprirem o mínimo de suas penas ajudados por uma Justiça de códigos ultrapassados e cheia de brechas.
Alguns poderão achar um exagero, mas como se explica o fato de homens se favorecerem do dinheiro público, desviarem milhões para fora do País, e depois cumprirem prisão domiciliar? É um absurdo que estas questões não sejam rediscutidas juridicamente, pois as leis são brandas demais. E não se trata de autoritarismo, mas de autoridade, o que é bem diferente. Sim, quem cometeu tais abusos deve, no mínimo, pagar por eles com trabalho, apoio a famílias necessitadas, entre outras ações capazes de marcar a vida do preso. A realidade atual é vexatória.
E vejam que com o cenário político e econômico em crise, as empresas vão à bancarrota, os partidos políticos e seus mandatários são pulverizados, as classes operárias ficam à deriva e grupos que se sentem injustiçados de alguma forma saem em busca de suas perdas. Num quadro como esse só nos resta a reorganização e um governo que invista em respeito e verdade. Isso porque a mentira irá aumentar a crise e elevar ainda mais os ânimos.
Vimos os movimentos de caminhoneiros, professores, metalúrgicos e outros profissionais que estão sendo vilipendiados em seus direitos, à custa dos desmandos e da corrupção. Não é justo ver o aumento do desemprego, dos juros e de outros bens de consumo quando o País tem condição de ser exemplo.
Atos de intolerância estão surgindo em alguns pontos do Brasil e não podemos permitir que essas atitudes se alastrem. O povo deve ter o legítimo direito de se manifestar e quem governa também precisa ter coragem de não se esconder das dificuldades. Agora o vice-presidente Michel Temer e a presidente Dilma não podem ser vaiados em público? Quando foram eleitos sabiam que poderiam enfrentar vitórias ou frustrações. Eles e nossos outros representantes do Congresso e do Senado precisam dar respostas claras sobre o que ainda teremos de enfrentar e por quanto tempo. Quanto mais se fugir da vaia será pior. Ninguém ganha uma eleição para governar de dentro do gabinete ou fazendo discursos apenas pela televisão.
Há milhões de dólares em paraísos fiscais e que precisam ser resgatados. As empresas que fazem negócios com a Petrobras devem ser auditadas e fiscalizadas antes, durante e depois dos serviços prestados. Empresários envolvidos no escândalo de corrupção da indústria petrolífera não devem ter a oportunidade de gerir empresas ou estabelecer vínculos econômicos com outros investidores. Contratos de empréstimos e de construções devem ser destinados para as empresas classificadas em segundo lugar nas concorrências, afastando qualquer probabilidade de “perda” de documentos comprometedores ou de novas adulterações de provas e desvio de verbas.
Isso nós enxergamos, mas e quem produz os processos, condena e prende os culpados? Será que têm o mesmo interesse em acabar com as mamatas? Ou irão se constranger, pois são os donos das maiores construtoras do País? Alguns “ratos” já começaram a escapar de suas ratoeiras.