Alguém ainda acredita em José Serra? Fica difícil imaginar que ele goste de ser prefeito e que vá cumprir o mandato até o fim, deixando de lado a eleição para presidente, que é o seu grande sonho. Quem está em maus lençóis é o eleitor, que ficará sempre com esta dúvida.
As eleições em São Paulo foram “federalizadas”, como uma prévia da disputa à Presidência, incluindo os dois partidos mais fortes do Brasil: PSDB e PT. Serra parte para o desespero e tem a consciência de que não é isso o que quer. Porém, ao mesmo tempo não quer deixar a porta aberta para que o PT, que lançou Fernando Haddad, ex-ministro da Educação de Lula, tenha ampla maioria dos votos.
Os dados do jogo de poder foram lançados e o cargo de prefeito será o maior prêmio. Infelizmente não sabemos o quanto nossa cidade vale enquanto barganha eleitoral, mas é a pura verdade. Com as garras afiadas, candidatos, assessores, puxa-sacos e simpatizantes partirão com tudo para o ataque, com o objetivo de obter cargos comissionados.
Do lado de fora, nós vemos as outras opções de voto: Gabriel Chalita, Netinho de Paula, Celso Russomano e até o Tiririca, que só espera ter sua candidatura lançada oficialmente pelo partido. São Paulo sempre foi eclética com relação aos candidatos a prefeito, no entanto, voltamos a viver um período de vacas magras, quero dizer, de pretendentes fracos.
Para nossa cidade, com problemas complexos e mesmo assim capazes de alçar políticos a grandes cargos, sempre tivemos concorrentes polêmicos à cadeira de prefeito, como Marta Suplicy e Paulo Maluf, por exemplo. Agora, teremos um trabalho árduo como eleitores, pois os políticos deverão ser analisados como administradores de São Paulo e não como interessados em usar a cidade como trampolim. Isso nós não merecemos.
Até porque as campanhas são muito bonitas na televisão, porém a realidade é outra. O prefeito Gilberto Kassab deixará o cargo e não sabemos quais os problemas que o próximo eleito irá encontrar. Com certeza o novo prefeito terá de ter jogo de cintura para lidar com dívidas e parte do orçamento comprometido em obras antes acertadas.
Além disso, o próximo eleito será o “prefeito da Copa do Mundo”, se é que podemos assim dizer. Ele terá pela frente mais desafios do que os já presentes na cidade. Além de agradar a nós paulistanos, São Paulo irá acolher pessoas do mundo inteiro e terá de ser um exemplo em matéria de limpeza, hospitalidade, organização, infraestrutura, comunicação, entre outros itens.
Ser prefeito de São Paulo não é uma brincadeira, já que a cidade precisa ter suas obras aceleradas em termos de transporte, saúde, tecnologia e informação turística de um modo geral. Há anos os estrangeiros recepcionados por nós conhecem o velho jeitinho brasileiro. Muitos motoristas de táxi, por exemplo, tentam ludibriar os turistas para ganhar alguns reais a mais na corrida.
No transporte público, faltam profissionais bilíngues no Metrô, CPTM e nos ônibus. E mesmo isso sendo um grave problema às vésperas de uma Copa, a Prefeitura pouco liga. A SPTuris, responsável por vários eventos da cidade, também não está estruturada para atender um grande grupo de estrangeiros. A verdade é que o prefeito terá muito para fazer, em pouco tempo, e com o máximo de eficiência, pois os erros poderão marcar sua carreira política ou mesmo findá-la.
Todos nós deveremos estar de olhos bem abertos para o que vem por aí. Os ataques de parte a parte serão a tônica da campanha, como sempre, porém, não podemos ser contaminados pela baixaria. Devemos sim, se possível, anotar as propostas e até guardá-las para cobrar depois. Se nosso voto for consciente teremos a certeza de ter feito o melhor. Caso contrário, nossa reclamação será em vão depois.
Sérgio Murilo Mendes